domingo, março 09, 2014

"O REI ESTA VOLTANDO.


“Ele, porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais” 1 Rs 19:4.

Elias, o tisbita, como a Bíblia o identifica, é um personagem muito conhecido dos leitores da Bíblia. Poucos homens na Bíblia e na história de Israel experimentaram o poder e autoridade de Deus como “o profeta do fogo”. Elias era um destemido, intrépido, ousado e “abusado”. Ele não mandava recado, dizia “na lata”, na face do rei o que de Deus recebia.
Quem, hoje, não queria ser como Elias? Em um mundo de corrupção, desmandos e autoritarismo, ser um “profeta de fogo” deixaria muitos déspotas com a barba de molho.
Elias surgiu no cenário de Israel como que do nada. Assim começa sua história: “ENTÃO Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra” 1 Rs 17:1. Ele já aparece apresentando suas credenciais para Acabe, um rei casado com uma péssima rainha por nome Jezabel.
“APÓS a morte do Rei Jeroboão, cada rei que governava o reino de 10 tribos de Israel era mau. O Rei Acabe era o pior de todos. Sabe por quê? Um motivo era sua esposa, a má Rainha Jezabel.
Jezabel não era israelita. Era filha do rei de Sídon. Adorava o deus falso Baal, e conseguiu que Acabe e muitos outros israelitas também adorassem Baal. Jezabel odiava a Jeová e matou muitos profetas dele. Outros tiveram de esconder-se em cavernas, para não ser mortos. Quando Jezabel queria algo, até mesmo matava para consegui-lo.”
É neste cenário de decadência e procrastinação espirituais que Elias assume a árdua missão de banir o culto a Baal, introduzido em Israel por Jezabel.
Imagine um profeta chegando diante do rei para confrontá-lo?! Pois Elias não hesitava.
Sua missão tinha alguns aspectos dignos de observação pelos estudiosos da Bíblia. Primeiro, apontar o pecado do rei, da rainha e de toda nação; segundo, confrontá-los por toda idolatria praticada em Israel; terceiro, profetizar o sobrenatural “segundo à sua palavra”; quarto, desafiar os profetas de Baal e Azera no monte Carmelo; e, por último, banir os falsos profetas e o culto a Baal da vida de uma nação, submersa no pecado da idolatria e de tantos outros.
Logo Elias passou a ser conhecido no palácio como “o perturbador de Israel”. “Então disse ele: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor, e seguistes a Baalim. Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.” 1 Rs 18:18,21.
Depois de sua árdua missão, diante de uma nação letárgica e indiferentes aos princípios estabelecidos por Deus desde Moisés, Elias “jogou a toalha”. Elias teve uma crise de fé; cansou-se de Deus e de si mesmo, a ponto de desejar a morte. “Ele, porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais” 1 Rs 19:4. Elias estava esgotado espiritualmente. O confronto com as entidades malignas e seus profetas minara-lhe as forças espirituais.
Mas, como pode um “profeta de fogo” passar uma crise existencial? Desistir de Deus, de si mesmo e de todos os seus sonhos?
Infelizmente, pessoas acham que ser cristão, crente ou discípulo de Jesus as isenta das mazelas e misérias deste mundo. Quando tudo vai bem, as pessoas sentem-se entusiasmadas e dispostas a tudo; logo, porém, que surgem lutas na estrada empoeirada da vida, sem norte e sem rumo, o discípulo de Jesus perde todo aquele vigor apresentado no início de sua carreira espiritual. E por que isso acontece? Uma pane espiritual elimina sua capacidade de raciocinar e até de se lembrar das palavras de Jesus. “Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” Mt 5:45.
Ninguém passará nesta vida sem passar pela dor ou sofrimento. Uns mais, outros menos; mas todos saberão o significado de um eclipse existencial. “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” Jo 16:33.
“Quando falamos em esgotamento espiritual ou depressão espiritual, título escolhido por Martin Lloyd Jones para um de seus livros, não nos referimos simplesmente a depressão, estresse ou cansaço de um ponto de vista teológico ou com uma linguagem evangélica. Mas nos referimos a uma crise real de fé, um abalo em nossa espiritualidade, afetando nossa santidade e relacionamento com Deus.”
A situação de Elias se agravou de tal maneira que foi preciso uma intervenção Divina. O pecado de autocomiseração se apoderara do “profeta do fogo”. Era preciso fazê-lo “vomitar” tudo o que causava terrível desconforto na alma. Quanto mais ele abrigasse suas frustrações, menos fé e discernimento ele teria para seguir sua caminhada.
A experiência de Elias é uma referência para todos quantos passam por adversidades. O confronto com principados, potestades, príncipes das trevas deste séculos e hostes espirituais da maldade, na verdade, drenam a vida de quem está no fronte da batalha.
Não há nada de anormal na vida de quem milita intensamente e, de repente, sente o amargo da morte na alma. Os amigos desaparecem, Deus parece se conservar distante, assistindo, passivamente, o que está acontecendo, problemas de toda ordem surgem de todas as partes, o cansaço, o enfado, a dor, a enfermidade, a tristeza, a solidão, o desdém, o desprezo, a escassez, o estresse...eis o dilema! Está tudo acabado! Achar que um profeta do Senhor não tem lutas, não sofre altos e baixos, é faltar com a verdade e desconhecer a história daqueles que admiramos como heróis da fé. “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos” 2 Co 1:8 (grifo meu).
A maioria dos que exerceram liderança política, social e espiritual, passaram por crises existenciais. Esses são momentos muito bem descritos pelo rei Davi, no diálogo com sua própria alma. “ASSIM como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus? Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma; pois eu havia ido com a multidão. Fui com eles à casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava. Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face” Sl 42:1-5.
Como Davi, temos outros expoentes e heróis da fé que experimentaram a fraqueza, sem, contudo, fracassarem. Jacó, Moisés, Samuel, Jeremias, João Batista, Paulo...a lista é grande. Todos provaram do amargo. Mas como li recentemente, “só merece o doce quem provou o amargo”.
Ver um profeta atuando é, deveras, fascinante. Não queira, entretanto, encontrar-se com um profeta em seu momento de profunda crise e esgotamento espirituais. Nessa hora só Deus pode “descer” para dialogar e curar aqueles a quem Ele levanta para a realização de proezas e prodígios.
Geralmente nos entusiasmamos com o lado bom que nossos heróis bíblicos vivenciaram; esquecemo-nos, entretanto, de perscrutar os momentos negativos que a Bíblia faz questão de evidenciar. A imparcialidade de Deus não nos deixa dúvida: os heróis do passado eram “sujeitos às mesmas paixões que nós”. “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra” Tg 5:17.
É mesmo de causar espanto lermos sobre o dia que Elias “jogou a toalha”. Desistiu de tudo, de todos, de Deus e de si mesmo! Buscou uma caverna onde pudesse sepultar sua brilhante história. O padrão aferidor de Elias era incompatível com o medidor de Deus. Suas conclusões precipitadas não conferiam com a avaliação que Deus fizera sobre sua vida e missão.
Somos pesados, diariamente, em balanças fiéis. Deus nos conhece por dentro e por fora. E o Salmista descreve isso da seguinte forma: “SENHOR, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa” Sl 139:1-12. Neste Salmo, dois atributos naturais de Deus se destacam: a onisciência e a onipresença. E é dessa forma que descobrimos o quão limitados somos!
Elias “cavou” um “túmulo” e, dentro da caverna, esperava terminar sua missão.
Então, como lidar com a “síndrome de Elias”? O que fazer naqueles dias enfadonhos? Como agir diante da incerteza do futuro? Como dar a volta por cima ao enfrentar o esgotamento espiritual, a ponto de “jogarmos a toalha”?
PRIMEIRO, nunca se esqueça de quem o escolheu e chamou. “Depois veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Retira-te daqui, e vai para o oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão”1 Rs 17:2,3. (grifo meu). Elias recebeu a palavra do Senhor, chamando-o, escolhendo-o e dirigindo-o para uma missão.
Por mais estranho que pareça, o agir de Deus transcende nossa capacidade de conceber os fatos. Logo, é preciso OBEDECER suas ordens, mesmo que tudo pareça obscuro. Deus jamais nos colocará numa fria!
SEGUNDO, nunca se esqueça de quem está contigo. “E a mão do Senhor estava sobre Elias, o qual cingiu os lombos, e veio correndo perante Acabe, até à entrada de Jizreel” 1 Rs 18:46 (grifo meu). É significativo e enfático que “a mão do Senhor estava sobre Elias”. Elias vivia sob a PROTEÇÃO DIVINA. Era um “AGENTE FEDERAL ESPIRITUAL” na terra, para desfazer as obras do diabo e levar Israel de volta ao centro da vontade de Deus.
Sob a mão de Deus ele andava e agia; sob a mão de Deus ele profetizava e desafiava; sob a mão de Deus ele anunciava e denunciava os pecados da nação; sob a mão de Deus ele orava e obtinha resposta... E foi contando com a PROTEÇÃO divina que ele teve coragem para navegar no sobrenatural.
Não chegaremos a lugar algum sem que “a mão do Senhor” esteja sobre nossas vidas.
TERCEIRO, nunca se esqueça de quem fez contigo uma aliança. Para refrescar a memória de Elias, Deus permitiu que ele fugisse de Jezabel e passasse por Berseba, onde deixou o seu moço (Eliseu). “Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se de certo amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles.” 1 Rs 19:2. O nome Berseba significa poço do Juramento. Remonta aos dias de Abraão, Isaque e Jacó. Patriarcas com os quais Deus estabeleceu Sua aliança, durante o período conhecido como GOVERNO PATRIARCAL.
Quando se entende o que representa uma ALIANÇA, fica muito mais fácil superar limites e vencer borrascas. Como assim? Diferente de um CONTRATO que pode ser modificado, anulado ou rasgado, uma ALIANÇA é inquebrantável e inalienável. Quando Deus estabelece uma ALIANÇA é para toda vida. É algo permanente e eterno.
Trocando em miúdos, “um contrato se baseia no desempenho dos contratantes e pode ser dissolvido caso uma das partes não cumpra sua obrigações.
A aliança é um conceito diferente, desconhecido muitas vezes na nossa cultura ocidental.
Significa pacto, acordo. Mas se diferencia do contrato pelo fato de ser baseado na honra dos estipulantes. Não se baseia no desempenho e nem pode ser revogado.
A Bíblia é mais bem entendida se você compreende o significado de uma aliança, pois este é um conceito com o qual o povo de Deus estava familiarizado, bem como todos os povos orientais.”
Deus fizera uma aliança com Elias e não o abandonaria no momento crucial.
O REI ESTÁ ESTÁ VOLTANDO!

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